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O que ainda não foi entendido sobre a relação do Agro com o Meio Ambiente

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A produtora rural, Carla de Freitas, uma das fundadoras do NFA, Núcleo Feminino do Agronegócio, essa semana discorreu sobre a ligação entre produção e meio ambiente em entrevista ao Instituto Millenium. Ela, que vivencia as questões ligadas ao desenvolvimento do agronegócio e sustentabilidade, conhece as origens os direitos e deveres dos produtores tanto nos quesitos de produção rural quanto de preservação de áreas ambientais.

Para ela, que é considerada referência no modelo moderno de produção rural, entender como essa conciliação entre preservação do meio ambiente e agronegócio foi construída ao longo do tempo, requer a revisão da história do Brasil, captando assim, de maneira mais clara, a situação de hoje.

Carla relembra o histórico de Rondônia, que anteriormente era conhecida como território do Guaporé, tornando-se mais tarde um estado. Sua família foi para Rondônia em 1981, um ano antes de o território ser formalizado como Unidade da Federação. Teve acesso aos fatos dessa transformação, que se deu mediante trabalho árduo e a necessidade de preservação das áreas. “Num primeiro período, com demarcação de terras, derrubadas, plantios, muita mão de obra sendo requisitada para trabalhar a terra, tornando-a útil. É preciso saber que a Amazônia, com vastas áreas, não apresentava desenvolvimento algum, por isso, no intuito de não se perder essas terras – como aconteceu com a Bolívia em relação ao Acre, na primeira grande chamada da borracha , começou-se a criar o Estado de Rondônia, chamando gente para trabalhar, fazendo escolas, cidades. A motivação era ‘Integrar para não Entregar’. O que muitos não sabem, no entanto, é que na época em que foi feito o Estado, em que tudo isso foi criado do zero, havia a obrigatoriedade de se trazer desenvolvimento em cima dessas áreas. Foi obviamente um processo bastante difícil, porque tudo isso não saiu do governo, saiu da iniciativa privada, de chegar lá, fazer essa demarcação, essa derrubada, levar gente. Vieram pessoas de todo o Brasil. No primeiro levante da madeira vieram muitos nordestinos, mas no seguinte, onde era preciso vender essa madeira, vieram pessoas do Rio Grande do Sul, do Paraná. As pessoas tinham consciência de que só haveria direito a essa área se a usasse, se a integrasse e se produzisse nela. Isso porque, ter áreas gigantes, como aconteceu em outros estados, e deixar isso para futuramente fazer negócios, não traria jamais o desenvolvimento para o Estado de Rondônia. Outra questão, que às vezes as pessoas não entendem, é sobre o que se fala muito hoje em relação aos desmatamentos, derrubadas e queimadas. É necessário olhar atento do que é ilegal ou legal, e as pessoas, muitas vezes, não têm noção das implicações. O que existe hoje é a obrigatoriedade de se preservar 80% da terra que você compra, podendo usar apenas 20%, além de toda uma outra série de obrigações. Nós produtores rurais – em sua grande maioria -, que tomamos todos os cuidados no cumprimento de normas e regras, sabemos que para conseguirmos alcançar uma qualidade nessa preservação é preciso haver a legalização de todas essas terras, e que tudo seja muito bem demarcado. Isso porque há pessoas que não estão respondendo perante a lei como qualquer cidadão. Trata-se de um processo demorado mesmo, daí a importância da compreensão do que de fato acontece no Brasil.”

E para finalizar, Carla diz ser fundamental que as questões da Amazônia sejam analisadas por todos. “Os pareceres de pessoas que estão longe, nas cidades, são bem-vindos, mas também acredito que os agentes envolvidos deveriam ir conhecer as regiões mais pequeninhas dessa Amazônia para saber como essas pessoas vivem e qual a realidade delas antes de se criar um conceito ou mesmo uma ação sem conhecimento das particularidades e diferenças existentes por toda a região.”

Por: Agrovenki | Foto: arquivo pessoal

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