Neste mundo tão quantitativo em que vivemos hoje é bem comum confundirmos a prosperidade da produção, a exemplo do agronegócio, com agressões à qualidade de vida e preservação do meio ambiente. Talvez seja interessante acrescentarmos o hábito da análise da informação antes de aderirmos à ‘enxurrada’ de dados alarmantes que chegam a nós diariamente. Não faz muito tempo, o mundo recebeu o anúncio da carne de laboratório à base de plantas e da carne de laboratório como um divisor de águas no comportamento alimentar da população, uma solução disruptiva. Só que, em vez de uma divulgação dos processos utilizados, com consciência, e benefícios, tudo foi exposto como algo já inteiramente aprovado e solução certeira.
Nessa onda anunciada, foram investidos bilhões de dólares, com grandes empresários e artistas promovendo o produto. A Impossible Foods arrecadou US$ 183 milhões, sem ter vendidos um único hambúrguer.
Mas, e o consumidor, e as verdadeiras vendas desses produtos anunciados como carne de laboratório?
O choque de realidade, passada a euforia da ideia, foi a resposta econômica, com a capitalização dessas empresas com números bem baixos. As grandes empresas que desenvolveram suas linhas não conseguiram mantê-las pela falta de demanda, desabando de vez com a pandemia.
O fato é que a população se questionou muito a respeito de quais seriam os benefícios dessa carne artificial para a saúde enquanto o mercado, com suas reações lineares, não pontuou o crescimento esperado por alguns. Para a carne alternativa imaginava-se um crescimento, tal como aconteceu com o leite, que não é de vaca, mas de amêndoa, soja e arroz.
No lugar de milagres, vamos acreditar em formas corretas de produção. A diferença é que o leite passa por uma questão de saúde, que é a intolerância, e não apenas uma questão ideológica. Vegetarianos e veganos, por sua filosofia de vida, preferem um alimento à base plantas, porém naturais e preparados por eles mesmos, e não esperam comer produtos que emitem o gosto da carne. E entre os comedores de carne, no qual se esperava uma migração, o terrorismo de informação não convenceu por muito tempo.
Investimento em alternativas naturais e de equilíbrio
Ao abrir espaço para escolhas, o que sempre é positivo, cabe a reflexão: Combater o desperdício e mostrar o quanto se pode fazer sobre o consumo consciente não é uma alternativa muito mais sustentável? E se todos esses bilhões de dólares fossem investidos em alternativas naturais e de equilíbrio que envolvem a produção, conscientização, pesquisa, incentivo em núcleos que produzem com respeito e sustentabilidade? Esse caminho não seria mais correto para a humanidade?
Mais do que produtos mágicos, nossa geração precisa de mudanças de hábitos ao encarar um prato de comida. Eu acredito que não aja outra forma de produzir que não seja com boas práticas de produção. Isso porque, quando falamos de sustentabilidade, o bem-estar animal revela-se um elemento central, onde se integram os aspectos sociais, econômicos, pois existem os ganhos produtivos. Assim, tudo isso está ligado a esse aspecto; tanto ambiental, como social.
Quando não existe um ambiente correto para os animais viverem, também está se invadindo essa parte ambiental, com erosões e com tantas outras questões. E isso também interfere no aspecto de bem-estar animal. Por isso, hoje, é muito difícil se falar de produção e não falar de bem-estar animal.
Por: Carmen Perez, integrante do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), pecuarista e entusiasta das práticas do bem-estar animal na produção. No Centro-oeste do Brasil, trabalha na fazenda Orvalho das Flores com pesquisas intensivas juntamente com o Grupo Etco, da Unesp de Jaboticabal e universidades internacionais.
Agência Agrovenki