No agronegócio brasileiro, a presença feminina tem se mostrado cada vez mais relevante e transformadora. O Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), é uma iniciativa que surgiu para unir mulheres produtoras rurais, promovendo a troca de conhecimentos e experiências. Nesta entrevista, Francisco Vila, economista e Gestor, compartilha a trajetória do NFA, desde sua concepção até os desafios enfrentados, as estratégias adotadas para engajar as mulheres e o impacto significativo na vida das participantes e no setor como um todo.
[1] Como surgiu a ideia de criar o NFA e qual foi o principal objetivo naquele momento inicial?
Durante vários congressos da FEICORTE (bovinos) observamos que apenas 5 a 7 mulheres participavam das palestras com um público acima de 200 produtores. Enquanto isto, na FEILEITE, o segmento feminino representava em torno de 70%.
[2] Pode nos contar sobre os primeiros passos e desafios enfrentados para estabelecer o NFA?
Juntamente com a Cris Bertelli comecei a desenhar um modelo de encontros que poderia mudar essa realidade. Após algumas tentativas e com a dedicação da Carla de Freitas conseguimos instituir um programa de encontros mensais que contaram inicialmente com cerca de uma dúzia de fazendeiras. Aproveitamos eventos e feiras em São Paulo para assegurar a participação de produtoras vindo de fora da capital ou de outros Estados.
[3] Quais foram as estratégias utilizadas para engajar as mulheres no agronegócio e promover a união do grupo?
Sempre convidamos para almoços de trabalho com palestras. Desde o início solicitamos sugestões de temas e especialistas para assegurar o atendimento de demandas concretas do grupo. Após a parte oficial seguiu sempre um debate organizado sobre perguntas e respostas sobre assuntos concretos desde as perspectivas do mercado até a escolha de cochos mais eficientes. Com esta aproximação técnica e bastante prática as mulheres se conheceram e criaram laços de comunicação além dos encontros mensais.
Com o tempo, o grupo cresceu até cerca de 20 membros. Nunca foi o objetivo de expandir muito além dessa dimensão, pois o lema era “qualidade é mais importante do que qualidade”. E com a representatividade de 20 produtoras, muitas delas com atividades em outras profissões, criou-se um formato de aprendizado coletivo que distingue este grupo de outras aglomerações em Cooperativas, Sindicatos ou Associações de classe.
[4] Impacto e União das Mulheres:
a) De que maneira o NFA impactou a vida das mulheres do núcleo?
Mulheres gostam de espelho. E conversas com colegas com realidades, preocupações e interesses semelhantes ajuda imensamente no processo de melhor entender e gerenciar o sempre complexo negócio da agropecuária. A estratégia, definida logo no início através de um programa de convivência do grupo, focou em 2 vertentes: combinar a ‘aprendizagem contínua’ com ‘o aprendizado coletivo’ (o chamado peer do peer learning). Pois, em conjunto e ouvindo a visão do outro aprende-se melhor.
b) Como você percebe a evolução da participação feminina no setor desde a criação do NFA?
A mulher, por natureza, está mais aberta ao processo de aprender e melhorar suas práticas em todos os segmentos onde atua. O que muitas vezes falta é um ambiente interativo, bem como uma linguagem pragmática que permitem que cada uma possa ampliar seu conhecimento teórico e prático dentro da sua disponibilidade de tempo e prioridade. O NFA ofereceu esta plataforma flexível e agradável de aprender.
[5] Contribuição e Legado:
Nos conte sua contribuição até hoje junto à associação.
Como um treinador de futebol, que oriente mais não joga (mais) segui 3 fases: Construir um programa de aprendizado coletivo focado no perfil de grupo de produtores de diversas áreas e portes, mas com um elevado nível de formação e motivação. Depois explicar, tanto em reuniões coletivas como em conversas individuais, os caminhos da implementação sucessiva conforme a situação específica de cada membro do NFA. E, finalmente, e cada vez mais distante o acompanhamento dos resultados e a disponibilidade de conversar sobre dúvidas estratégicas ou práticas. Como na educação dos filhos, o mais importante da orientação de outros é promover a independência e métodos do autoaprendizado contínuo. Participando ocasionalmente nos encontros, tenho o privilégio de conviver com este grupo de mulheres simpáticas e eficientes e aprender para passar essas experiências para outros grupos e outras profissões.
[6] Como você vê o papel do NFA na transformação do agronegócio brasileiro?
Um terço dos proprietários rurais são mulheres. Tratando-se de professoras natas, o aperfeiçoamento de algumas reflete automaticamente num número maior de produtoras. A mulher não costuma guardar conhecimentos para ela. A prática normal é compartilhar e ensinar as vizinhas, bem como os filhos que um dia entrarão no negócio da família.
[7] Visão de Futuro:
Como você vê o NFA se adaptando às novas tendências e desafios do agronegócio?
O Brasil possui enormes vantagens para contribuir na alimentação do mundo. Assim, a questão da demanda (crítico para qualquer negócio) está resolvida. Do lado da oferta o diferencial entre vencedores e produtores menos eficientes não depende do tamanho da fazenda, mas sim da capacidade da incorporação de tecnologia e da gestão. Em ambos os campos as mulheres possuem vantagens. São mais abertos a novas soluções e sabem gerenciar melhor as pessoas. Pois é a equipe que transforme a oferta de inúmeras opções de tecnologias inovadoras em planos concretos de melhoria da performance da sua fazenda. Para não fazer isto de forma isolada, o NFA com muitos anos de experiência em compartilhar conhecimento e práticas, assume um papel importante, não só para seus membros, mas sim, também para os vizinhos que, olhando para outro lado da cerca certamente copiam as boas práticas que as mulheres reunidas no NFA trazem para sua região.
Por Agência Agrovenki