A pecuária tropical, quando gerida com sistemas integrados e práticas sustentáveis, destaca-se como uma ferramenta eficaz na mitigação das mudanças climáticas, desafiando abordagens simplistas de redução do consumo de carne. Ao intensificar a produção, em vez de simplesmente reduzi-la, a atividade agropecuária tropical pode ser mais eficiente na redução de emissões, contrariando preconceitos frequentes.
Na 28ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 28/UNFCCC), realizada em Dubai, as mudanças climáticas foram destaque, trazendo à tona propostas de redução do consumo de carne. No entanto, a atividade agrícola, além de ser uma fonte de emissões, possui potencial para mitigar os impactos climáticos, especialmente por meio de práticas sustentáveis.
A adoção de sistemas integrados, como a integração Lavoura Pecuária-Floresta (iLPF), demonstra a capacidade de remover carbono do solo, contribuindo positivamente na luta contra as mudanças climáticas. Resultados de estudos indicam que sistemas integrados podem compensar as emissões do rebanho bovino, promovendo uma abordagem sustentável na produção agropecuária tropical.
Estudos do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (OCBio/FGV) revelam que a integração Lavoura Pecuária-Floresta pode remover 36 megatoneladas de gás carbônico equivalente do solo em 6,5 milhões de hectares, neutralizando as emissões do rebanho bovino. Essa análise evidencia a possibilidade de desenvolver uma pecuária sustentável, intensificando a produção com menor impacto ambiental.
Comparando sistemas pecuários produtivos, estudos indicam que, ao considerar o sistema como um todo, a intensificação da produção pode resultar em menor emissão líquida de gases de efeito estufa. Investir em tecnologia e técnicas de produção possibilita produzir mais carne utilizando menos área, reduzindo a pegada de carbono.
CONTRIBUIÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO CENÁRIO GLOBAL
Em 2022, o mundo emitiu cerca de 53,8 bilhões de toneladas de carbono equivalente, com o setor agropecuário respondendo por 15% dessas emissões. No Brasil, as atividades agropecuárias contribuíram com 0,64% das emissões mundiais. Comparando o cenário nacional com o global, observa-se uma variabilidade considerável na contribuição de cada setor para as emissões totais.
Frequentemente, o setor agropecuário é mal compreendido nos debates, sendo necessário analisar o sistema produtivo em sua totalidade. Ao considerar a produção de carne, é importante avaliar as emissões sistêmicas da atividade pecuária, indo além da atribuição individual aos animais nas fazendas. A contribuição positiva da atividade agropecuária e do setor de florestas na remoção de carbono da atmosfera destaca-se como um aspecto primordial na abordagem sustentável.
A perspectiva sustentável enfatiza a importância dos sistemas integrados, como a integração Lavoura Pecuária (iLP) e a integração Lavoura Pecuária-Floresta (iLPF), que não apenas mitigam as emissões, mas também apresentam um balanço negativo de emissões. Estes sistemas, quando bem implementados, removem mais carbono do que emitem, contribuindo significativamente para a redução do impacto ambiental da produção agropecuária.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA PECUÁRIA TROPICAL
Estudos indicam que investimentos em tecnologia e práticas sustentáveis podem resultar em uma produção mais eficiente, utilizando menos área e reduzindo as emissões por unidade de carne produzida.
A pecuária tropical, predominantemente praticada de forma extensiva, deve ser considerada nas regras da contabilidade climática. Somente ao compreender as nuances dos diferentes sistemas de produção, é possível estabelecer estratégias de intervenção específicas. A visão transformadora da pecuária, quando adaptada ao contexto tropical, revela oportunidades únicas para o desenvolvimento sustentável.
A pecuária tropical, quando devidamente gerida, não apenas contribui para a segurança alimentar, mas também desempenha um papel fundamental na construção de um futuro sustentável e resiliente.
Fonte: Agronalysis – Janeiro 2024 – FGV
Por: Agência Agrovenki